Pesquisador brasileiro radicado em Singapura recebe prêmio internacional

  • 25/04/2024
(Foto: Reprodução)
Gustavo Giacomelli Nascimento estuda a associação entre hábitos de vida pouco saudáveis e doenças bucais, como a periodontite. Aos 38 anos, o pesquisador brasileiro Gustavo Giacomelli Nascimento acaba de receber um prestigioso prêmio de jovem cientista da Associação Internacional para Pesquisa Dental, Oral e Craniofacial (IADR em inglês). Sua trajetória é impecável: graduação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul; doutorado pela Universidade Federal de Pelotas, onde deu aulas; seguido por quase seis anos na Universidade de Aarhus, na Dinamarca, onde também foi professor. Vivendo atualmente em Singapura, é professor associado da Duke-NUS Medical School e investigador do Centro Nacional de Pesquisa em Saúde Bucal daquele país. Nascimento conversou com o blog sobre a carreira e sua principal área de estudo: a periodontite e seus determinantes nas populações. A doença afeta principalmente os adultos e se caracteriza pela placa bacteriana que vai aderindo à linha das gengivas, atacando primeiro a região e depois os ossos que sustentam os dentes. Ele alerta que, apesar de a escovação e a limpeza profissional serem indispensáveis, já se sabe que o surgimento da periodontite ocorre por diversos fatores. O pesquisador brasileiro Gustavo Giacomelli Nascimento que acaba de receber um prestigioso prêmio de jovem cientista da Associação Internacional para Pesquisa Dental, Oral e Craniofacial Acervo pessoal Para começar, nos conte um pouco sobre essa trajetória internacional que começou no Brasil, continuou na Dinamarca e acabou levando-o a Singapura. O passo essencial foi o período de “sanduíche” no doutorado, quando passei um ano na Austrália conduzindo estudos relacionados à minha tese, que explorou a ligação entre obesidade e periodontite em crianças e adultos no Sul do Brasil. Ao retornar, fui aprovado em um concurso na Universidade Federal de Pelotas e, logo depois, recebi o convite para concorrer a uma posição acadêmica na Dinamarca. Após quase seis anos na Escandinávia, surgiu a oportunidade de uma mudança para a Ásia, mais especificamente, Singapura. Há quanto tempo vive em Singapura e que trabalho vem desenvolvendo? Estou em Singapura há pouco mais de um ano e meio. Desde então, venho me dedicando a projetos que envolvem a potencial ligação entre as doenças orais e as sistêmicas, como diabetes e suas complicações, doenças cardiovasculares e questões cognitivas, usando dados dos serviços hospitalares do país. Um de seus principais campos de pesquisa é a doença periodontal. O que pode ser feito para evitá-la? Embora a periodontite seja associada à placa dentária, hoje sabemos que existem outros fatores tão ou mais importantes que a presença da placa, como fumo e diabetes, assim como as condições socioeconômicas. Nem todas as pessoas que têm um biofilme aderido à superfície dental desenvolverão a periodontite e há diversas causas que propiciam seu estabelecimento. Atualmente, nossa perspectiva na área de odontologia compreende que se trata de uma doença não-transmissível e que hábitos saudáveis, como dieta equilibrada, exercício físico e aspectos psicológicos, exercem um papel relevante no controle da enfermidade. Um dos estudos que realizou aponta a relação entre o consumo de produtos ultraprocessados e a doença. Poderia explicar? Sabemos que a dieta alimentar está relacionada à maior ocorrência de doença periodontal durante todas as fases do ciclo vital. Em estudos realizados em parceria com a Universidade Federal do Maranhão, temos explorado o papel do açúcar na sua ocorrência, e os resultados têm mostrado uma consistente associação entre essas condições. Num trabalho em parceria com a Universidade Federal de Pelotas e a Universidade de Aarhus, vimos que adultos com periodontite tendem a consumir mais alimentos ultraprocessados. Isto talvez ocorra porque ela parece alterar a percepção de gosto e cheiro, levando os indivíduos a uma eventual preferência por alimentos mais “palatáveis”, como os ultraprocessados. Esta hipótese ainda está sob investigação. Estudos já apontaram a relação entre a doença periodontal e o surgimento de hipertensão e Doença de Alzheimer, assim como o desenvolvimento de câncer de fígado. Quais são os avanços nesse campo? Embora existam estudos mostrando a ligação entre periodontite e incontáveis doenças crônicas não-transmissíveis, ainda não temos evidências suficientemente robustas que nos permitam estabelecer uma relação causal entre essas condições. Interessantemente, tais doenças compartilham fatores de risco comuns, como fumo, sedentarismo, dieta rica em alimentos ultraprocessados, altos níveis de estresse, renda familiar na infância, entre tantos outros. Cada vez mais a comunidade científica aceita a hipótese de que a doença periodontal pode estar ocorrendo concomitantemente a outras doenças crônicas – e não necessariamente as causando – por colapso ou deterioração de estruturas ou funções em diversos sistemas, como o imunológico ou vascular, induzidos e/ou acelerados por predisposição genética, exposição a hábitos e condições ambientais prejudiciais. O que Singapura, que tem como meta aumentar a expectativa de vida da população em três anos na próxima década, está fazendo nessa área? O país tem dois programas com o objetivo de melhorar a saúde bucal da sua população acima de 60 anos. Um dos benefícios se aplica apenas a famílias de baixa renda, enquanto outro é baseado na idade, voltado para indivíduos que nasceram antes de 31 de dezembro de 1949. São cuidados odontológicos que incluem prevenção e tratamento das principais doenças bucais, além de reabilitação protética. Um estudo recente sobre esses benefícios demonstrou o efeito positivo das políticas de saúde, fazendo com que a população visite o dentista com maior frequência. Porém, o real impacto de ações de acesso ao serviço odontológico para pessoas idosas, a fim de de preservar o bem-estar físico e mental dos mais velhos, ainda é motivo de debate. A discussão tem sido como garantir acesso ao serviço médico e odontológico provendo procedimentos que realmente sejam embasados na literatura e agregando valor ao cuidado. Em geral, isso passa por aumento considerável do salário mínimo e disponibilização de moradia e educação de qualidade. O senhor recebeu recentemente prêmio da Associação Internacional de Pesquisa Dental, Oral e Craniofacial na categoria de jovem pesquisador. Pode detalhar para nós? O prêmio leva em consideração a carreira do pesquisador como um todo. Venho trabalhando para incluir as doenças bucais como doenças crônicas não-transmissíveis. O acúmulo de hábitos de vida não saudáveis, como fumo, dieta rica em gorduras, obesidade e consumo excessivo de álcool, está ligado ao aumento do risco de periodontite, de forma similar ao que vemos com as outras enfermidades crônicas. Eu acredito e espero que esse seja o futuro da odontologia. É uma grande honra ter a trajetória reconhecida pela IADR, a associação em pesquisa odontológica de maior reputação no mundo. É também uma oportunidade de servir no conselho diretor da organização por dois anos, onde pretendo promover que a instituição seja representativa de todos os seus membros, dando visibilidade a pesquisadores independentemente de etnia, gênero, localização geográfica, religião e orientação sexual, para ajudar a definir agendas de política pública e de pesquisa para o mundo. VÍDEO: hábitos saudáveis com a saúde bucal evitam problemas nos dentes e gengivas na vida adulta Hábitos saudáveis com a saúde bucal evitam problemas nos dentes e gengivas na vida adulta

FONTE: https://g1.globo.com/bemestar/blog/longevidade-modo-de-usar/post/2024/04/25/pesquisador-brasileiro-radicado-em-singapura-recebe-premio-internacional.ghtml


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